Parceiros precisam se conhecer bem além da cama, diz especialistaMetade de todos os casamentos terminam em divórcio nos EUA –um paraíso onde os adultos solteiros representam o grupo demográfico de maior crescimento e onde a solidão parece epidêmica.

O problema é que nossos corações desejam intimidade, mas temos medo de enfrentar seus rigores, diz Matthew Kelly, autor de "The Seven Levels of Intimacy" [Os sete níveis da intimidade].

Segundo ele, os relacionamentos derrapam para a mediocridade por muitos motivos: falta de objetivo comum; falta de confiança; ausência de boa orientação de um conselheiro ou mentor espiritual. E, sim, expectativas irreais.

"Se você define um grande relacionamento como um sem qualquer problema insolúvel, ou sem qualquer conflito, então você está se preparando para a frustração e a decepção", ele escreve. Entrevistamos Kelly sobre sexo, almas gêmeas e autotraição.

The Denver Post – Qual é o principal motivo de fracasso nos nossos relacionamentos?

Matthew Kelly – As pessoas não sabem o que querem. Elas absolutamente não sabem! Quando converso com solteiros, digo que eles precisam fazer duas listas. A primeira lista deve ser inegociável, e não pode ter 97 coisas. Deve ser curta e concisa. A segunda lista é a das coisas que seriam boas. E você tem de viver de acordo com elas. As pessoas saem com alguém que sabem que não é a pessoa que elas querem, mas também não querem ficar sozinhas. Então perdem a oportunidade de conhecer as pessoas que se enquadram nos critérios de sua lista.

DP – As pessoas solteiras tendem a ver o casamento como o nirvana. Mas alguns casados dizem que são realmente solitários. Isso é solidão existencial ou outra coisa?

Kelly – É diversas coisas. Intimidade é a auto-revelação mútua, mas a realidade é que passamos mais tempo nos escondendo, nos mascarando e erguendo barreiras. Nos escondemos por causa desse grande denominador universal, o medo. As pessoas pensam: "Se você realmente me conhecesse, não gostaria de mim". Todos temos esse medo, em graus variados. Nos escondemos tanto que, apesar de estarmos com uma pessoa, não estamos com ela. Somos apenas um fantasma. Podemos passar a vida inteira e nunca nos sentir realmente conhecidos por outra pessoa. Isso é deprimente e cria uma solidão incrível.

DP – O que você acha de conceitos populares como amor à primeira vista e almas gêmeas?

Kelly – São duas coisas muito diferentes. Acredito que algo como o amor à primeira vista certamente é possível, mas esclareço dizendo que o amor é uma opção. Realmente acredito que escolhemos as pessoas que amamos… A primeira coisa que atrai duas pessoas é algum tipo de atração física. Isso é verdade. Mas além disso precisamos de um discernimento cuidadoso.

Quanto a almas gêmeas, realmente acredito que, nos grandes relacionamentos, as pessoas foram criadas uma para a outra. Quando você conhece pessoas em relacionamentos ótimos, são como duas peças de um quebra-cabeça que se encaixam, especialmente quando você chega ao nível mais elevado de intimidade, que é duas pessoas trabalhando juntas para suprir mutuamente suas necessidades legítimas. Nós todos somos maravilhosos e estranhos de muitas maneiras. É realmente um milagre que duas pessoas consigam se unir em relativa harmonia e trabalhar para criar uma vida ótima.

DP – Você diz que na cultura moderna a intimidade física é mais fácil que a emocional. Como isso afeta nossos relacionamentos, especialmente no cenário da paquera?

Kelly – O mito cultural dominante é que o sexo equivale a intimidade. Ele pode fazer parte dela, mas sexo não garante a intimidade. Os jovens estão conscientes da necessidade de conexão com outras pessoas. Mas por causa da força da mensagem cultural eles gravitam para uma experiência sexual da intimidade. Então se sentem abandonados, traídos e usados.

DP – Então, se o maior problema nos relacionamentos é a autotraição, por que deixamos que isso aconteça?

Kelly – Porque não temos consciência de nós mesmos, não nos conhecemos e não sabemos realmente quais são nossas necessidades legítimas, física, emocional, intelectual e espiritualmente. Ficamos tão consumidos por desejos ilegítimos que nunca recebemos o suficiente do que realmente não precisamos. Então nossos desejos tornam-se desordenados, caprichos baseados em desejos fúteis, e não em um verdadeiro projeto ou autoconhecimento. Se quisermos satisfação e realização, precisamos nos concentrar em nossas necessidades legítimas, que incluem a intimidade. Esse é o segredo.

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