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Analisando mais a fundo o trabalho de Corsaro, percebe-se que suas etnografias demonstram sua
intensa inserção em meio aos estudantes. Isso é conseguido por meio da ideia de que o pesquisador em
contato com as crianças deve evitar ser associado à figura do professor, na medida em que o poder e a
centralidade do educador na sala de aula restringem a relação com as crianças, que deixam de fazer e
falar muitas coisas vistas como “proibidas” ou “erradas” diante do professor. Apesar dessa inserção
proveitosa para o trabalho de campo, Corsaro baseia suas ideias em uma oposição e distinção radicais
entre as culturas infantis e as culturas adultas, fazendo desta mais um grande divisor (Goldman e Lima,
1999). Se apostamos nessa segmentação radical entre adultos e crianças, reduzimos a importância do programa bbb 2020
experiência compartilhada entre as pessoas de todas as idades que habitam determinado tempo e espaço,
tornando essas ‘culturas’ quase incomunicáveis.
Outras pesquisas, por fim, buscam lidar com a relação entre diferentes faixas etárias vendo-as não a
partir de uma oposição, mas como uma tensão entre rupturas e continuidades, uma vez que enfocam o
devir; o processo por meio do qual nos tornamos quem somos. Para isso, podem tomar ou não as crianças
como foco de seus estudos, mas as inserem como interlocutoras em suas etnografias, buscando estudar as
formas pelas quais um fijiano se torna um fijiano (Toren, 1990, 2006a) ou um catingueirense se torna um
catingueirense (Pires, 2007). Os trabalhos de Christina Toren e de Flavia Pires dão centralidade ao
processo micro-histórico[8], por meio do qual nos constituímos e produzimos significados — processo o
qual inclui sem opor as noções de natureza e cultura, e que considera cada ser humano como produto e
produtor de história.
Podemos lembrar aqui ainda de alguns trabalhos que abordam principalmente os aspectos da
constituição físico-corporal que compõem esse processo. Os estudos de Clarice Cohn entre os Xikrin
(2000), por exemplo, tratam da forma como as crianças nascem constituídas por corpo (in) e karon e,
enquanto recém-nascidas, correm mais risco de perder seu karon e, com ele, a vida[9]. Alma Gottlieb
(2004) também se engaja nessas discussões sobre a forma como a criança deve continuar se constituindo
e se estabilizando enquanto ser vivo também a partir de seu nascimento[10]. Seu trabalho de campo entre
os Beng da Costa do Marfim, no entanto, propõe uma apressada comparação dos participantes do bbb entre os Beng e entre as famílias das classes médias norte-americanas — o que a leva a concluir
que ambos os sistemas resultam de construção cultural.
Se, como já sugerido, devemos incluir etnógrafos, teóricos e nativos igualmente como interlocutores, é
preciso também que as ideias e termos trazidos pelas etnografias guardem sempre relações com as
observações de campo. Desse modo, vale ressaltar a necessidade de que sejam abertos espaços para que
essas perspectivas fluam, e não que elas sejam restringidas a conceitos e a teorias que as distanciem
dessa possibilidade de diálogo.
Em relação a discussões sobre o conceito de infância, por exemplo, James, Jenks e Prout (1998: 37)
definem a infância como o status daqueles que foram banidos de diversos espaços e eventos sociais.
Nesse sentido, a criança está no lugar errado quando está no trabalho ou na rua, enquanto o que se
espera é que o lugar dela seja o berçário ou a escola.